domingo, 13 de janeiro de 2008

Política - Extradição de Fujimori: erro ou estratégia?

Por Cézar Katsumi


Após a Corte Suprema do Chile ter aprovado a extradição ao Peru, o ex-presidente Alberto Fujimori finalmente enfrenta em Lima o julgamento por corrupção e violação de direitos humanos.
Para quem não sabe, Fujimori, que também possui nacionalidade japonesa, permaneceu foragido no Japão por cinco anos, depois que virou alvo de investigações em meio a um escabroso escândalo de corrupção no Peru, país que governou de 1990 a 2000.
Em 2005, decidido a concorrer novamente às eleições presidenciais em seu país, Fujimori tentou retornar ao Peru passando pelo Chile, onde foi imediatamente detido e permaneceu em prisão domiciliar num condomínio de luxo perto de Santiago até a sua extradição no dia 22 de setembro.
Ao ser detido no Chile, o governo peruano solicitou imediatamente a extradição de Fujimori e conseguiu formalizar em tempo hábil apenas 13 acusações de crimes que ele supostamente teria cometido no Peru.
Em julho de 2007, um juiz chileno chegou a rejeitar a extradição por tais alegações.
Contudo, das treze acusações formuladas pela justiça peruana, a Corte Suprema chilena, em última instância, acatou somente sete para a extradição, ou seja, Fujimori foi inocentado de quase metade das denúncias.
O que poucos sabem, é que, devido ao acordo de extradição entre os dois países, a justiça peruana só poderá julgar o ex-presidente por esses 7 “prováveis” crimes.
Embora os jornais, quase que por unanimidade, celebram o tão aguardado julgamento de Fujimori (com merecida razão, diga-se de passagem), eles se esquecem do principal: questionar se a passagem de Fujimori pelo Chile foi um erro ou parte de uma estratégia do ex-mandatário para livrar-se de grande parte das acusações que pesavam sobre suas costas. Nesse caso, se tudo correr conforme o suposto plano, não será a opinião pública quem deverá comemorar.

Diversidade - 15o Festival Mix Brasil: cadê os filmes brasileiros?


Palco da maior parada gay do mundo, o Brasil ainda engatinha na produção cinematográfica com temática GLBT.

Por Cézar Katsumi

O 15º Festival Mix Brasil em São Paulo, que aconteceu de 13 a 25 de novembro, só deixou uma certeza: a de que o cinema nacional GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) está a anos-luz de se tornar uma referência mundial na categoria. Justamente numa época em que a temática vem ganhando maior destaque - como em 2006, quando Hollywood esteve prestes a coroar com o prêmio de melhor filme o amor entre dois caubóis em O Segredo de Brokeback Mountain (2005) - o Brasil, palco da maior parada gay do mundo, se restringe ainda a um apanhado de produções pífias, na sua grande maioria de curtas-metragens confusos e de linguagem não consolidada.
Aliás, o grande premiado pelo público e pelo júri da Mostra Competitiva Brasil I e II, em que disputaram ao todo 12 filmes, foi 69 – Praça da Luz (2007) de Joana Galvão e Carolina Markowicz, documentário com prostitutas da Praça da Luz, que, apesar de hilariante e bem produzido, pouco tem a ver com a temática do evento. Merece destaque, contudo, o curta Bárbara (2007), de Carlos Gradim, pela convincente atuação de Vandré Silveira no papel de um travesti que visita seu pai no leito da morte e se vê diante novamente das dores do passado.
Tendo em vista a inexpressividade do Brasil no festival, a grande atração ficou mesmo por conta da mostra internacional que este ano enfocou a curiosa produção asiática, como o filme O Desabrochar de Oliveros (2005), candidato oficial das Filipinas ao Oscar de filme estrangeiro em 2006, e o longa japonês Hatsu-Koi (2007), que apesar da estética experimental e das cenas grotescas de sexo, trata com bom humor e delicadeza questões como o casamento gay e o momento em que um adolescente decide assumir a sua homossexualidade. Fora do circuito asiático, o Festival Mix Brasil contou com a participação do longa argentino XXY (2007) de Lucía Puenzo. Filha do diretor Luís Puenzo, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1986 com A História Oficial, Lucía aborda de forma sensível o drama de uma adolescente hermafrodita, na brilhante atuação de Inés Efrón, que se vê diante do tortuoso dilema de precisar assumir as características de um dos sexos. O filme recebeu o Prêmio da Crítica no Festival de Cannes de 2007 e irá representar oficialmente a Argentina na corrida ao Oscar de filme estrangeiro neste ano. Isso mostra o quanto os argentinos estão à frente dos brasileiros quando se trata de levar o tema GLBT ao grande público. No Brasil, em geral, as produções do gênero ficam restritas ao público alternativo. Muitas delas são curtas com baixo orçamento e, por esse motivo, têm pouquíssimas chances de representar o Brasil em festivais de peso.
A temática gay não é, contudo, um tabu para o público brasileiro. Em 2006, o filme O Segredo de Brokeback Mountain levou às salas de cinema mais de 600 mil brasileiros. Isso representa quase o dobro do público de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, pré-candidato do Brasil ao Oscar 2008 de filme estrangeiro. Vale lembrar também que o cinema brasileiro já trouxe às telas uma variedade de personagens gays, como o travesti Lady Di, de Carandiru (2002), interpretado pelo galã global Rodrigo Santoro; e o transformista João Francisco, em Madame Satã (2002), vivido pelo então desconhecido Lázaro Ramos. O Brasil carece, entretanto, de grandes produções que tratem com maior atenção e sensibilidade a temática gay, não apenas como pano de fundo, mas como mote principal da trama.
O Festival Mix Brasil tem um papel importante na divulgação e premiação da produção cinematográfica nacional GLBT, bem como o de revelar diretores e atores do gênero. Mas está mais do que na hora de o Brasil levar a temática ao grande público e mostrar ao mundo que é capaz de fazer filmes que não explorem somente a pobreza e a violência urbana. Nunca o cenário esteve tão favorável para isso quanto agora. E viva a diversidade brasileira.

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