quinta-feira, 5 de junho de 2008

Acadêmico - Nunca verás país nenhum é tema de palestra

Por Rogério Santana

O instituto Itaú Cultural promove no mês de junho uma série de eventos denominada “Redes de Criação”. O projeto tem como objetivo explicar e entender de que maneira se constrói o processo criativo nas diversas áreas do conhecimento tais como: a arte, a literatura, a mídia e o a ciência.

Com base nessa idéia ontem (05/06), o jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão ministrou uma palestra na sede do instituto ao lado da Profª Cecília Almeida Salles. Tendo como tema a construção do pensamento para a elaboração do livro “Não verás país nenhum” publicado por Loyola em 1981.

Cecília tornou-se doutora com a tese sobre o processo de construção de uma obra literária, utilizando como base a obra de Loyola. Para sorte da professora o escritor é muito metódico e por isso guardou durante anos uma caixa em que ficavam todas as referências que tinha usado para a elaboração do livro.

Na caixa havia 774 anotações datilografadas pelo autor sobre idéias que ajudaram a compor a narrativa; uma espécie de diário geral na qual retratava o dia-a-dia e suas impressões de como conduzia a obra; uma série de notas que Cecília nomeou “diário anterior”, com fatos que marcaram a vida do escritor e também serviram de experiência para seus escritos, além de uma pasta com 4000 recortes de jornais sobre os mais variados temas porém com um eixo: a destruição da natureza. Os artigos referiam-se a poluição, devastação, hidrografia, entre outros assuntos.

Muitas foram as experiências pessoais que ajudaram Loyola a escrever seu texto. Das impressões remanescentes em sua vida, estavam o furo de brincadeira na mão que fez quando trabalhava na editora Abril, a charge sobre o enterro da última arvore que havia sido cortada - vista no salão de humor de Piracicaba - foi desse desenho que surgiu a idéia do livro como o nome de “O corte final”, porém ao abranger mais fatos relacionados ao meio ambiente Loyola decidiu mudar o título do livro.

Para concluir sua participação, Loyola contou que na década de 1980 estava em um supermercado e viu um homem ficar constrangido ao soltar gases perto de uma moça, para tentar disfarçar o rapaz resolveu abrir um spray de perfume. Então Loyola começou a imaginar porque não venderiam ‘cheiros’ enlatados. No livro há um capítulo em que não há mais cheiros naturais e as pessoas vão ao mercado para comprar os mais diferentes como por exemplo: cheiro de café torrado.

O curioso e paradoxo é que o autor não queria que o livro fosse profético, mas hoje encontramos no supermercado ‘cheiros’ dos mais diversos, entre eles “Lembrança de Infância”.

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