quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Sexo frágil. Quem foi que disse?

Por Rogério Santana

As mulheres brasileiras provaram que o sexo feminino de frágil não tem nada. Pela primeira vez na história olímpica brasileira uma mulher conquistou uma medalha em esporte individual. Coube a judoca Ketleyn Quadros abrir as portas do pódio para que suas compatriotas fizessem estragos nas Olimpíadas de Pequim, na China.

Após o brilhante resultado do judô foi a vez da dupla Isabel Swan e Fernanda Oliveira conquistarem a primeira insígnia para a vela feminina do Brasil. O esporte que mais contribui para o esporte olímpico nacional com 16 medalhas viu nas águas de Qingdao a estréia das mulheres verde-amarelas no pódio do iatismo.

A derrota para as americanas no futebol, pode ter sido o maior sofrimento da delegação feminina brasileira nos Jogos. O time de Marta, Cristiane e Cia. tinha tudo para sair da China como campeã olímpica, mas como no esporte é preciso saber vencer e perder, as meninas do futebol mostraram que para chegar à final é preciso garra e coragem, sentimentos que muitas vezes os homens não demonstraram.

Mas após três medalhas bronzeadas, chegou o auge e ele não poderia ter escolhido uma pessoa melhor para representar a garra da mulher brasileira. Maurren Higa Maggi, depois de dois anos suspensa acusada de doping, a atleta de São Carlos voltou à pista e marcou um feito para o esporte feminino brasileiro. Com sua medalha de ouro no salto em distância, Maurren tornou-se a primeira mulher do Brasil a vencer uma prova individual em uma competição olímpica.

Para coroar a participação feminina de nossas atletas em Pequim, no penúltimo dia de competições, a campeã mundial de taekwondo Natalia Falavigna conquistou o oitavo bronze brasileiro na China.

Após uma semifinal conturbada e a decisão dos juízes, que levou a coreana naturalizada norueguesa, Nina Solheim à final, Natalia mostrou a força das brasileiras e conquistou o bronze ao vencer o combate contra a sueca Karolina Kedzierska.

Mas, o melhor ainda estava por vir. Sem medo de comparações a melhor seleção brasileira feminina de vôlei, chegou à final contra as americanas, credenciadas como favoritas, afinal não haviam perdido um set sequer em sete partidas disputadas.

Porém do outro lado da quadra estava a seleção americana conhecida por sua garra e determinação. Mas, não teve quem segurasse Sheila, Mari, Fabiana, Fabi, Walewska, Fofão e Cia. Com maestria as brasileiras deram um show e após quatro Olimpíadas parando na semifinal, o Brasil venceu por 3 sets a 1 e consagrou-se campeão olímpico de voleibol.

Seria injusto se falássemos da participação feminina nos jogos lembrando apenas das medalhistas, não podemos jamais esquecer da grande Edinanci Silva. Em sua quarta Olimpíada a judoca chegou bem perto de medalhar, mas bateu na trave ficando em quarto lugar.

A mesma posição das valentes Renata e Talita, do vôlei de praia, que enfrentaram nas semifinais, simplesmente as bicampeãs olímpicas e super-favoritas, as norte-americanas Walsh e May. Mesmo com muita garra as brasileiras perderam a medalha de bronze para a dupla chinesa Xue e Zhang Xi, mas não perderam a esperança de voltar a uma Olimpíada em Londres – 2012.

Provando que não estavam de brincadeira em Pequim, as atletas do revezamento 4X100, uma das provas mais nobres do atletismo, foram surpreendentes e chegaram bem próximo à medalha, um quarto lugar com valor de pódio.

As Olimpíadas de Pequim vão deixar inúmeros ídolos como o fantástico Michael Phelps e suas oito medalhas de ouro, mas parabéns as mulheres brasileiras que mostraram do outro lado do mundo a força de guerreiras que são. E parabéns ao povo brasileiro que pode se orgulhar de ter como compatriotas mulheres que fizeram história.

sábado, 12 de julho de 2008

Literatura - Um poeta na contramão

Por Cézar Katsumi

Reynaldo Jiménez desafia o leitor pós-moderno. Seus poemas, com sintaxe e pontuação irregulares, requerem uma leitura cuidadosa – e releituras, na maior parte das vezes. Assusta logo de cara aqueles que estão acostumados aos coloquialismos e clichês que pululam nas produções literárias pós-modernas. No entanto, somente alguém inserido nessa cultura alimentada e renovada a todo instante por informações advindas dos quatro cantos do mundo é capaz de decifrar o universo de signos e referências presente nos versos cuidadosamente lapidados por Jiménez.

Seus poemas deixam transparecer um vasto repertório cultural do poeta materializado nas citações que transitam de clássicos como Cândido, de Voltaire, a filmes como o japonês Balada de Narayama, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1983. Mas algumas referências passariam batidas pelo leitor brasileiro. É o que ocorre na obra Las Miniaturas (1987) em que Jiménez cita passagens de cantos pré-colombianos e de autores latino-americanos importantes, mas pouco conhecidos pelo público brasileiro, como o peruano Jorge Eduardo Eielson e o colombiano Germán Arciniegas.

Eléctrico y despojo, lançado pela editora portenha Trocadero em 1984, reúne 28 poemas escritos por Jiménez entre 1980 e 1983. Essa é certamente uma das obras em que Jiménez concentra-se mais no universo sensorial. Os poemas se erigem a partir de um rico inventário de experiências sensitivas – marcado principalmente pela visão, tato e audição – e põem à tona um estado fluido de inconsciência, de extrema fertilidade criativa, em que se misturam imagens idílicas tal como num quadro surrealista.


no hay regreso las ramas
cimbran el silencio en unos
ojos que se esperan o convierten
en el brillo
en la llave de las águas

aunque es tarde pero suenan
en la bolsa de la noche las agujas
la sangre escapa
la música una palma cerrada

pero aprieta sus mandíbulas el cielo
las cabezas cortadas de los árboles

aunque nada sople tiembla el sueño
de las aguas como un cuerpo
que ha empezado a
respirar


Assim como as imagens que apresenta, é como se os versos e as palavras ganhassem vontade própria e buscassem explorar, à sua maneira, o espaço físico no papel. Na primeira metade do livro, é mais que evidente a influência de Mallarmé e seu lance de dados na forma como os versos e as palavras se distribuem ao longo dos poemas. A sintaxe é praticamente solta e, em alguns trechos, faz-se a presença de “metáforas visuais” ao melhor estilo concretista de Haroldo de Campos.


por la línea

pesa el
sol
o
pasa
o
el eco
esconde

algo que
te suelta
algo
deseándote
o
perdido

se anuda
al
aliento y
entra el
día
o

se
va


Jiménez é considerado por muitos teóricos um expoente da poesia neobarroca na América Latina, ao lado do cubano José Kozer e de poetas de peso no Brasil como Haroldo de Campos e Paulo Leminski. A corrente literária, ao trazer a referência do movimento seiscentista, busca contrapor-se, sobretudo, ao racionalismo e logocentrismo da poesia contemporânea em prol de uma polifonia de vocábulos, desarticulando o discurso linear com o uso de elipses, pontuações inusitadas e sintaxe irregular. Jiménez, contudo, refuta uma classificação estanque à sua poesia. “Diria que recentemente estou começando a vislumbrar um desdobrar minimamente racional sobre o neobarroco; não sou um especialista em definições, nem teórico, de modo que me meter com isso, onde por outro lado estou efetivamente envolvido, não é algo fácil.”

Definições à parte, a poesia de Jiménez é uma pedra no sapato da pós-modernidade, ao colocar em crise o culto ao imediatismo e às banalidades que corroem a poesia contemporânea desde seus miolos. Apesar de pouco reconhecida pelo público, somente uma poesia como a de Jiménez parece ser capaz de andar na contramão desse processo contínuo de degradação: é densa como um diamante, mas, ao mesmo tempo, irregular e bela como uma autêntica pérola. Aos porcos.

Humor - Entrevista com Ary Toledo

Por Cézar Katsumi

O comediante Ary Toledo conta detalhes sobre a sua vida e carreira em entrevista para o radiojornal Antena Universitária produzido por alunos da Faculdade Cásper Líbero no dia 11/06/08.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Acadêmico - Nunca verás país nenhum é tema de palestra

Por Rogério Santana

O instituto Itaú Cultural promove no mês de junho uma série de eventos denominada “Redes de Criação”. O projeto tem como objetivo explicar e entender de que maneira se constrói o processo criativo nas diversas áreas do conhecimento tais como: a arte, a literatura, a mídia e o a ciência.

Com base nessa idéia ontem (05/06), o jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão ministrou uma palestra na sede do instituto ao lado da Profª Cecília Almeida Salles. Tendo como tema a construção do pensamento para a elaboração do livro “Não verás país nenhum” publicado por Loyola em 1981.

Cecília tornou-se doutora com a tese sobre o processo de construção de uma obra literária, utilizando como base a obra de Loyola. Para sorte da professora o escritor é muito metódico e por isso guardou durante anos uma caixa em que ficavam todas as referências que tinha usado para a elaboração do livro.

Na caixa havia 774 anotações datilografadas pelo autor sobre idéias que ajudaram a compor a narrativa; uma espécie de diário geral na qual retratava o dia-a-dia e suas impressões de como conduzia a obra; uma série de notas que Cecília nomeou “diário anterior”, com fatos que marcaram a vida do escritor e também serviram de experiência para seus escritos, além de uma pasta com 4000 recortes de jornais sobre os mais variados temas porém com um eixo: a destruição da natureza. Os artigos referiam-se a poluição, devastação, hidrografia, entre outros assuntos.

Muitas foram as experiências pessoais que ajudaram Loyola a escrever seu texto. Das impressões remanescentes em sua vida, estavam o furo de brincadeira na mão que fez quando trabalhava na editora Abril, a charge sobre o enterro da última arvore que havia sido cortada - vista no salão de humor de Piracicaba - foi desse desenho que surgiu a idéia do livro como o nome de “O corte final”, porém ao abranger mais fatos relacionados ao meio ambiente Loyola decidiu mudar o título do livro.

Para concluir sua participação, Loyola contou que na década de 1980 estava em um supermercado e viu um homem ficar constrangido ao soltar gases perto de uma moça, para tentar disfarçar o rapaz resolveu abrir um spray de perfume. Então Loyola começou a imaginar porque não venderiam ‘cheiros’ enlatados. No livro há um capítulo em que não há mais cheiros naturais e as pessoas vão ao mercado para comprar os mais diferentes como por exemplo: cheiro de café torrado.

O curioso e paradoxo é que o autor não queria que o livro fosse profético, mas hoje encontramos no supermercado ‘cheiros’ dos mais diversos, entre eles “Lembrança de Infância”.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Acadêmico - Jornalista da Folha apresenta palestra para alunos do curso de Comunicação Social


Por Rogério Santana

O jornalista Fábio Seixas foi o participante da edição de maio da Cátedra de Jornalismo, Octávio Frias de Oliveira promovida pelo curso de Comunicação Social da FIAM (Faculdades Integradas Alcântara Machado) em parceria com o jornal Folha de São Paulo, ontem (14/05) no auditório da Faculdade no bairro da Liberdade.

Seixas que é editor-adjunto do caderno Esporte falou sobre sua experiência em coberturas de grandes eventos esportivos como Copa do Mundo e Olimpíadas. Ele ressaltou também sobre sua participação na cobertura das temporadas de Fórmula 1 que realizou para o jornal.

A palestra teve como pano de fundo as curiosidades e os problemas enfrentados pelo jornalista durante seu período de viagens. Segundo ele o lugar mais longe do mundo é a Malásia, pois nunca se chega lá, a corrida na Hungria é complicada, pois muitos policiais só querem extorquir os turistas, entre outros pontos desfavoráveis ao trabalho jornalístico.

Apesar das dificuldades, Seixas disse que o trabalho recompensa e usando uma frase atribuída ao avô, enfatizou: “Não se pode fazer cerimônia para trabalhar” dessa forma demonstrou que o repórter deve superar todas as barreiras para emplacar sua matéria.

Destacou também que no centro de imprensa há uma grande troca de informações entre jornalistas, porém é preciso confiar na fonte, ele citou o exemplo de uma corrida de Fórmula 1 em que havia inventado a história de que o alemão Michael Schumacher compraria a Sauber, porém tudo não passava de boato. Um dia depois de assunto ter se encerrado um repórter italiano do jornal “La Republica” veio perguntar sobre mais informações, pois ele já havia enviado duas matérias para a Itália sobre a possível compra.

Outra peripécia pela qual passou foi o durante o atentado as torres gêmeas em setembro de 2001 nos Eua. Fábio tinha uma entrevista exclusiva marcada com o presidente da Ferrai Luca di Montezemolo, no dia seguinte. Porém o dirigente não concedeu a entrevista, pois se disse muito abalado com o acontecido. Por sorte no mesmo dia houve um evento em que Montezemolo compareceu e respondeu três perguntas para Seixas, que acabou salvando a matéria.

Pequim 2008

Questionado por alunos presentes ao auditório, sobre como seria a cobertura da Folha em relação as Olimpíadas que começam em agosto, o jornalista disse que a internet dará os resultados instantaneamente, cabe então ao jornal impresso dizer aquilo que não foi visto na TV, fugir do factual é inevitável, mas procurar uma boa história a ser contada dentro do contexto da partida que as pessoas já sabem resultado é um dos objetivos dos repórteres de impresso.
A Folha enviará dez jornalistas entre eles Fábio que coordenará os repórteres na cobertura.

No final da palestra, Seixas disse que o impresso não vai acabar, por que o caminho encontrado pelo jornal foi apresentar uma reflexão dos fatos ocorridos no dia anterior e que todas as outras mídias já haviam noticiado rapidamente como a internet, o rádio e a televisão. Citou como exemplo os editorialistas que no dia após o acontecimento expõe a análise do fato de forma interpretativa.

sábado, 10 de maio de 2008

Literatura - Paulo Leminski: o marginal dos marginais

Por Cézar Katsumi

Este sim foi um verdadeiro marginal. Dos poetas da geração 68, como ele mesmo se intitulou em uma espécie de manifesto na revista Pólo Inventiva em 1978, ninguém mais do que Paulo Leminski encarnou o que havia de realmente original nessa geração marcada pelo inconformismo e rebeldia: a incoerência. Dono de uma personalidade singular, o poeta curitibano era capaz de reunir num mesmo ser a figura de hippie, ex-seminarista, poeta, publicitário, judoca e haicaísta zen. Embora soe um tanto quanto paradoxal, a sua incoerência era o que havia de mais sensato nesse contexto histórico pós-68.

Uma de suas contradições, se é que assim a podemos considerar, era o fato de ser marginal e, curiosamente, possuidor de uma erudição como poucos em sua época. Por trás do linguajar coloquial e dos versos livres, fazia-se presente na poesia de Leminski um rigoroso trabalho com a linguagem, fruto de um conhecimento aprofundado de autores consagrados como James Joyce e Ovídio, e da amizade de longa data com intelectuais de primeira grandeza como Décio Pignatari e Haroldo de Campos. É sabido também que o poeta tinha familiaridade com línguas. Ele mesmo se orgulhava de ser um “bandido que sabia latim”.

Leminski, ou a “besta dos pinheirais”, como também foi alcunhado, não via incoerência alguma em ser marginal e concretista ao mesmo tempo. Se de um lado, os marginais buscavam a liberdade contra todo tipo de repressão, do outro, o Concretismo, com o seu arcabouço teórico rígido e inflexível, representava a alguns deles o que havia de pior: um verdadeiro AI-5 da literatura. Nesse cenário, a figura de Leminski surgiu como uma válvula que despressurizava o rigor do Concretismo ao mesmo tempo que inflava a poesia marginal com uma boa dose de lirismo e erudição. Nesse meio tempo, conseguiu ainda espaço para ser tropicalista na gélida e sóbria Curitiba.

É, contudo, no campo social onde Leminski guardava suas maiores contradições. Escreveu a biografia do revolucionário russo Trotski, envolveu-se com organizações de esquerda como a Libelu, Liberdade e Luta, mas ainda assim não se permitia fazer poesia social. A respeito dos poemas de colegas que versavam sobre “bóias-frias ou metalúrgicos do ABC”, costumava dizer que “a realidade objetiva é a prostituta mais barata no mercado de idéias”. No começo da década de 80, numa reunião de escritores alemães no Rio de Janeiro, chegou a acusar o poeta maranhense Ferreira Gullar de “oportunista” e “carreirista”. Nesse caso, Leminski concordava com Fidel Castro. Preferia “um bom poema romântico a um mau poema político”: o primeiro, pelo menos, não prestaria um desserviço à revolução. Em seus textos criativos, podemos encontrar muitas vezes uma metalinguagem daquilo que considerava a verdadeira poesia marginal.

[Marginal é quem escreve à margem,]
Marginal é quem escreve à margem
deixando branca a página
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro à sua passagem.

Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha.

Como o poeta Ademir Assunção afirma, Leminski fazia questão de “alterar o texto para bagunçar o contexto”. Um exemplo clássico disso é a paródia que fez do discurso nacionalista de Médici: “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Leminski escreve: “ameixas / ame-as / ou deixe-as”. Ele consegue subverter o discurso militar ufanista somente alterando algumas palavras e, de quebra, se diverte com isso. Em tempos de chumbo, costumava dizer que “rir é o melhor remédio, achar graça, a única saída”.

Outra contradição saltaria aos olhos do público quando o poeta decidiu conciliar a literatura com a profissão de publicitário. Em 1975, no lançamento de sua obra prima Catatau, Leminski valeu-se de um recurso de marketing: pousou nu, em posição de flor de lótus, para o cartaz promocional da obra. Décio Pignatari, também publicitário, qualificou Catatau como o primeiro livro que surgiu dentro de uma perspectiva inovadora de promoção e marketing. O escritor Jaques Brand, contudo, foi bastante crítico ao destacar o ego de Leminski nessa “jogada publicitária”. O poeta curitibano então responde: “o que irrita Brand é que usei técnicas da propaganda para lançar um livro de literatura. Como se a literatura – numa sociedade de mercado e de consumo – fosse algo de santo ou pátrio”.

Leminski viveu intensamente as contradições de sua época. Faleceu aos 44 anos de cirrose hepática como Fernando Pessoa, embora desejasse ter sido como Pound e Maiakovski, dois grandes poetas que não bebiam. Apesar de ser enquadrado por muitos nos apêndices ora do Concretismo, ora da poesia marginal e ora do Tropicalismo, conseguiu realizar uma façanha ainda maior, como poucos na história da literatura: ser maior que um simples emblema. Ser ele mesmo.

Mídia - Jornal impresso: e quem disse que ele vai morrer?

Por Cézar Katsumi


Talvez ainda seja cedo apostar no fim do jornal impresso, como sugeriu o artigo “Who Killed the Newspaper” do periódico inglês The Economist em 24 de agosto de 2006. Pelo menos por enquanto aqui no Brasil essa profecia não parece estar perto de se tornar realidade. Embora a circulação média dos jornais no mundo venha sofrendo uma sensível queda nos últimos anos, os números do Instituto Verificador de Circulação (IVC) divulgados pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ) revelam que, desde 2004, os principais jornais brasileiros têm apresentado um aumento de circulação ainda que discreto. Em 2004, 2005 e 2006, a circulação média dos jornais cresceu, respectivamente, 0,8%, 4,1% e 6,5%, passando de 6,52 milhões para 7,23 milhões de exemplares vendidos diariamente.

Segundo a ANJ, essa recuperação teve como motivo o bom desempenho da economia brasileira. O Brasil é um exemplo clássico da relação do quadro econômico com a venda dos jornais. Nos anos que antecederam a recuperação da indústria jornalística, o PIB nacional crescia a taxas reduzidas. Somente a partir de 2004, com o reaquecimento da economia, os brasileiros passaram a comprar novamente os jornais impressos. Isso mostra que o mercado ainda existe mesmo com a concorrência da internet como fonte de informação.

Ao contrário dos que pensam que a mídia impressa deixou de ser atrativa para os anunciantes, o investimento publicitário no meio jornal vem subindo ano a ano no Brasil. De 2002 para 2006, o total dos investimentos saltou de R$ 1,91 milhão para R$ 2,69 milhões, registrando um aumento de 40%. Embora o investimento tenha subido em números absolutos, o jornal impresso, desde 2000, vem perdendo sua parcela de participação dos investimentos quando comparado aos outros meios. Um estudo do Projeto Inter-Meios divulgado pela ANJ constata que os investimentos publicitários vêm migrando principalmente para a TV por assinatura e para a internet.

Contudo, o jornal impresso está longe de perder espaço para a internet. Em três anos, esta só conseguiu avançar 0,5% na participação dos investimentos em mídia, ocupando modestos 2% em 2006. Nesse mesmo ano, o jornal impresso detinha 14,7% do total. Um meio impresso que apresentou um aumento significativo em 2006 como destino dos investimentos em mídia foi a revista. Ela sozinha abocanhou 1,7% a mais do total em relação a 2005, encerrando o ano de 2006 com uma participação de 10,5% da receita publicitária das mídias.

Diferentemente do que ocorre no Brasil, o mercado dos jornais impressos nos EUA vem perdendo cada vez mais em circulação e receita. Segundo o artigo “Out of Print”, publicado pela revista The New Yorker no dia 31 de março de 2008, a New York Times Company, uma das maiores empresas de comunicação dos EUA, que publica o jornal The New York Times e o International Herald Tribune, entre outros títulos, sofreu uma queda de 54% na bolsa de valores desde 2004.

Embora o mercado dos jornais impressos seja desanimador na maior parte do mundo, é precipitado afirmar que seu fim esteja próximo. Quando surgiu o rádio, não foram poucos os que acreditaram que o jornal estava com os dias contados. Da mesma forma, com o surgimento da televisão, houve quem dissesse que o jornal e o rádio sairiam de cena. Erraram. Logicamente, os meios tiveram de adaptar-se à nova realidade, assim como o jornal impresso o vem fazendo desde o advento da internet. Já se percebe, por exemplo, uma tendência de textos mais curtos no jornal online e de reportagens mais longas e aprofundadas no jornal impresso.

Seja pela tradição, seja pela credibilidade. O fato é que os principais jornais impressos continuam influenciando o cenário político e social do país e provavelmente o farão ainda por muito tempo. A sua sobrevivência no mercado está condicionada à capacidade de promover mudanças na sociedade. Afinal, eis o seu verdadeiro papel.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Política - Extradição de Fujimori: erro ou estratégia?

Por Cézar Katsumi


Após a Corte Suprema do Chile ter aprovado a extradição ao Peru, o ex-presidente Alberto Fujimori finalmente enfrenta em Lima o julgamento por corrupção e violação de direitos humanos.
Para quem não sabe, Fujimori, que também possui nacionalidade japonesa, permaneceu foragido no Japão por cinco anos, depois que virou alvo de investigações em meio a um escabroso escândalo de corrupção no Peru, país que governou de 1990 a 2000.
Em 2005, decidido a concorrer novamente às eleições presidenciais em seu país, Fujimori tentou retornar ao Peru passando pelo Chile, onde foi imediatamente detido e permaneceu em prisão domiciliar num condomínio de luxo perto de Santiago até a sua extradição no dia 22 de setembro.
Ao ser detido no Chile, o governo peruano solicitou imediatamente a extradição de Fujimori e conseguiu formalizar em tempo hábil apenas 13 acusações de crimes que ele supostamente teria cometido no Peru.
Em julho de 2007, um juiz chileno chegou a rejeitar a extradição por tais alegações.
Contudo, das treze acusações formuladas pela justiça peruana, a Corte Suprema chilena, em última instância, acatou somente sete para a extradição, ou seja, Fujimori foi inocentado de quase metade das denúncias.
O que poucos sabem, é que, devido ao acordo de extradição entre os dois países, a justiça peruana só poderá julgar o ex-presidente por esses 7 “prováveis” crimes.
Embora os jornais, quase que por unanimidade, celebram o tão aguardado julgamento de Fujimori (com merecida razão, diga-se de passagem), eles se esquecem do principal: questionar se a passagem de Fujimori pelo Chile foi um erro ou parte de uma estratégia do ex-mandatário para livrar-se de grande parte das acusações que pesavam sobre suas costas. Nesse caso, se tudo correr conforme o suposto plano, não será a opinião pública quem deverá comemorar.

Diversidade - 15o Festival Mix Brasil: cadê os filmes brasileiros?


Palco da maior parada gay do mundo, o Brasil ainda engatinha na produção cinematográfica com temática GLBT.

Por Cézar Katsumi

O 15º Festival Mix Brasil em São Paulo, que aconteceu de 13 a 25 de novembro, só deixou uma certeza: a de que o cinema nacional GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) está a anos-luz de se tornar uma referência mundial na categoria. Justamente numa época em que a temática vem ganhando maior destaque - como em 2006, quando Hollywood esteve prestes a coroar com o prêmio de melhor filme o amor entre dois caubóis em O Segredo de Brokeback Mountain (2005) - o Brasil, palco da maior parada gay do mundo, se restringe ainda a um apanhado de produções pífias, na sua grande maioria de curtas-metragens confusos e de linguagem não consolidada.
Aliás, o grande premiado pelo público e pelo júri da Mostra Competitiva Brasil I e II, em que disputaram ao todo 12 filmes, foi 69 – Praça da Luz (2007) de Joana Galvão e Carolina Markowicz, documentário com prostitutas da Praça da Luz, que, apesar de hilariante e bem produzido, pouco tem a ver com a temática do evento. Merece destaque, contudo, o curta Bárbara (2007), de Carlos Gradim, pela convincente atuação de Vandré Silveira no papel de um travesti que visita seu pai no leito da morte e se vê diante novamente das dores do passado.
Tendo em vista a inexpressividade do Brasil no festival, a grande atração ficou mesmo por conta da mostra internacional que este ano enfocou a curiosa produção asiática, como o filme O Desabrochar de Oliveros (2005), candidato oficial das Filipinas ao Oscar de filme estrangeiro em 2006, e o longa japonês Hatsu-Koi (2007), que apesar da estética experimental e das cenas grotescas de sexo, trata com bom humor e delicadeza questões como o casamento gay e o momento em que um adolescente decide assumir a sua homossexualidade. Fora do circuito asiático, o Festival Mix Brasil contou com a participação do longa argentino XXY (2007) de Lucía Puenzo. Filha do diretor Luís Puenzo, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1986 com A História Oficial, Lucía aborda de forma sensível o drama de uma adolescente hermafrodita, na brilhante atuação de Inés Efrón, que se vê diante do tortuoso dilema de precisar assumir as características de um dos sexos. O filme recebeu o Prêmio da Crítica no Festival de Cannes de 2007 e irá representar oficialmente a Argentina na corrida ao Oscar de filme estrangeiro neste ano. Isso mostra o quanto os argentinos estão à frente dos brasileiros quando se trata de levar o tema GLBT ao grande público. No Brasil, em geral, as produções do gênero ficam restritas ao público alternativo. Muitas delas são curtas com baixo orçamento e, por esse motivo, têm pouquíssimas chances de representar o Brasil em festivais de peso.
A temática gay não é, contudo, um tabu para o público brasileiro. Em 2006, o filme O Segredo de Brokeback Mountain levou às salas de cinema mais de 600 mil brasileiros. Isso representa quase o dobro do público de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, pré-candidato do Brasil ao Oscar 2008 de filme estrangeiro. Vale lembrar também que o cinema brasileiro já trouxe às telas uma variedade de personagens gays, como o travesti Lady Di, de Carandiru (2002), interpretado pelo galã global Rodrigo Santoro; e o transformista João Francisco, em Madame Satã (2002), vivido pelo então desconhecido Lázaro Ramos. O Brasil carece, entretanto, de grandes produções que tratem com maior atenção e sensibilidade a temática gay, não apenas como pano de fundo, mas como mote principal da trama.
O Festival Mix Brasil tem um papel importante na divulgação e premiação da produção cinematográfica nacional GLBT, bem como o de revelar diretores e atores do gênero. Mas está mais do que na hora de o Brasil levar a temática ao grande público e mostrar ao mundo que é capaz de fazer filmes que não explorem somente a pobreza e a violência urbana. Nunca o cenário esteve tão favorável para isso quanto agora. E viva a diversidade brasileira.

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