quinta-feira, 15 de maio de 2008

Acadêmico - Jornalista da Folha apresenta palestra para alunos do curso de Comunicação Social


Por Rogério Santana

O jornalista Fábio Seixas foi o participante da edição de maio da Cátedra de Jornalismo, Octávio Frias de Oliveira promovida pelo curso de Comunicação Social da FIAM (Faculdades Integradas Alcântara Machado) em parceria com o jornal Folha de São Paulo, ontem (14/05) no auditório da Faculdade no bairro da Liberdade.

Seixas que é editor-adjunto do caderno Esporte falou sobre sua experiência em coberturas de grandes eventos esportivos como Copa do Mundo e Olimpíadas. Ele ressaltou também sobre sua participação na cobertura das temporadas de Fórmula 1 que realizou para o jornal.

A palestra teve como pano de fundo as curiosidades e os problemas enfrentados pelo jornalista durante seu período de viagens. Segundo ele o lugar mais longe do mundo é a Malásia, pois nunca se chega lá, a corrida na Hungria é complicada, pois muitos policiais só querem extorquir os turistas, entre outros pontos desfavoráveis ao trabalho jornalístico.

Apesar das dificuldades, Seixas disse que o trabalho recompensa e usando uma frase atribuída ao avô, enfatizou: “Não se pode fazer cerimônia para trabalhar” dessa forma demonstrou que o repórter deve superar todas as barreiras para emplacar sua matéria.

Destacou também que no centro de imprensa há uma grande troca de informações entre jornalistas, porém é preciso confiar na fonte, ele citou o exemplo de uma corrida de Fórmula 1 em que havia inventado a história de que o alemão Michael Schumacher compraria a Sauber, porém tudo não passava de boato. Um dia depois de assunto ter se encerrado um repórter italiano do jornal “La Republica” veio perguntar sobre mais informações, pois ele já havia enviado duas matérias para a Itália sobre a possível compra.

Outra peripécia pela qual passou foi o durante o atentado as torres gêmeas em setembro de 2001 nos Eua. Fábio tinha uma entrevista exclusiva marcada com o presidente da Ferrai Luca di Montezemolo, no dia seguinte. Porém o dirigente não concedeu a entrevista, pois se disse muito abalado com o acontecido. Por sorte no mesmo dia houve um evento em que Montezemolo compareceu e respondeu três perguntas para Seixas, que acabou salvando a matéria.

Pequim 2008

Questionado por alunos presentes ao auditório, sobre como seria a cobertura da Folha em relação as Olimpíadas que começam em agosto, o jornalista disse que a internet dará os resultados instantaneamente, cabe então ao jornal impresso dizer aquilo que não foi visto na TV, fugir do factual é inevitável, mas procurar uma boa história a ser contada dentro do contexto da partida que as pessoas já sabem resultado é um dos objetivos dos repórteres de impresso.
A Folha enviará dez jornalistas entre eles Fábio que coordenará os repórteres na cobertura.

No final da palestra, Seixas disse que o impresso não vai acabar, por que o caminho encontrado pelo jornal foi apresentar uma reflexão dos fatos ocorridos no dia anterior e que todas as outras mídias já haviam noticiado rapidamente como a internet, o rádio e a televisão. Citou como exemplo os editorialistas que no dia após o acontecimento expõe a análise do fato de forma interpretativa.

sábado, 10 de maio de 2008

Literatura - Paulo Leminski: o marginal dos marginais

Por Cézar Katsumi

Este sim foi um verdadeiro marginal. Dos poetas da geração 68, como ele mesmo se intitulou em uma espécie de manifesto na revista Pólo Inventiva em 1978, ninguém mais do que Paulo Leminski encarnou o que havia de realmente original nessa geração marcada pelo inconformismo e rebeldia: a incoerência. Dono de uma personalidade singular, o poeta curitibano era capaz de reunir num mesmo ser a figura de hippie, ex-seminarista, poeta, publicitário, judoca e haicaísta zen. Embora soe um tanto quanto paradoxal, a sua incoerência era o que havia de mais sensato nesse contexto histórico pós-68.

Uma de suas contradições, se é que assim a podemos considerar, era o fato de ser marginal e, curiosamente, possuidor de uma erudição como poucos em sua época. Por trás do linguajar coloquial e dos versos livres, fazia-se presente na poesia de Leminski um rigoroso trabalho com a linguagem, fruto de um conhecimento aprofundado de autores consagrados como James Joyce e Ovídio, e da amizade de longa data com intelectuais de primeira grandeza como Décio Pignatari e Haroldo de Campos. É sabido também que o poeta tinha familiaridade com línguas. Ele mesmo se orgulhava de ser um “bandido que sabia latim”.

Leminski, ou a “besta dos pinheirais”, como também foi alcunhado, não via incoerência alguma em ser marginal e concretista ao mesmo tempo. Se de um lado, os marginais buscavam a liberdade contra todo tipo de repressão, do outro, o Concretismo, com o seu arcabouço teórico rígido e inflexível, representava a alguns deles o que havia de pior: um verdadeiro AI-5 da literatura. Nesse cenário, a figura de Leminski surgiu como uma válvula que despressurizava o rigor do Concretismo ao mesmo tempo que inflava a poesia marginal com uma boa dose de lirismo e erudição. Nesse meio tempo, conseguiu ainda espaço para ser tropicalista na gélida e sóbria Curitiba.

É, contudo, no campo social onde Leminski guardava suas maiores contradições. Escreveu a biografia do revolucionário russo Trotski, envolveu-se com organizações de esquerda como a Libelu, Liberdade e Luta, mas ainda assim não se permitia fazer poesia social. A respeito dos poemas de colegas que versavam sobre “bóias-frias ou metalúrgicos do ABC”, costumava dizer que “a realidade objetiva é a prostituta mais barata no mercado de idéias”. No começo da década de 80, numa reunião de escritores alemães no Rio de Janeiro, chegou a acusar o poeta maranhense Ferreira Gullar de “oportunista” e “carreirista”. Nesse caso, Leminski concordava com Fidel Castro. Preferia “um bom poema romântico a um mau poema político”: o primeiro, pelo menos, não prestaria um desserviço à revolução. Em seus textos criativos, podemos encontrar muitas vezes uma metalinguagem daquilo que considerava a verdadeira poesia marginal.

[Marginal é quem escreve à margem,]
Marginal é quem escreve à margem
deixando branca a página
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro à sua passagem.

Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha.

Como o poeta Ademir Assunção afirma, Leminski fazia questão de “alterar o texto para bagunçar o contexto”. Um exemplo clássico disso é a paródia que fez do discurso nacionalista de Médici: “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Leminski escreve: “ameixas / ame-as / ou deixe-as”. Ele consegue subverter o discurso militar ufanista somente alterando algumas palavras e, de quebra, se diverte com isso. Em tempos de chumbo, costumava dizer que “rir é o melhor remédio, achar graça, a única saída”.

Outra contradição saltaria aos olhos do público quando o poeta decidiu conciliar a literatura com a profissão de publicitário. Em 1975, no lançamento de sua obra prima Catatau, Leminski valeu-se de um recurso de marketing: pousou nu, em posição de flor de lótus, para o cartaz promocional da obra. Décio Pignatari, também publicitário, qualificou Catatau como o primeiro livro que surgiu dentro de uma perspectiva inovadora de promoção e marketing. O escritor Jaques Brand, contudo, foi bastante crítico ao destacar o ego de Leminski nessa “jogada publicitária”. O poeta curitibano então responde: “o que irrita Brand é que usei técnicas da propaganda para lançar um livro de literatura. Como se a literatura – numa sociedade de mercado e de consumo – fosse algo de santo ou pátrio”.

Leminski viveu intensamente as contradições de sua época. Faleceu aos 44 anos de cirrose hepática como Fernando Pessoa, embora desejasse ter sido como Pound e Maiakovski, dois grandes poetas que não bebiam. Apesar de ser enquadrado por muitos nos apêndices ora do Concretismo, ora da poesia marginal e ora do Tropicalismo, conseguiu realizar uma façanha ainda maior, como poucos na história da literatura: ser maior que um simples emblema. Ser ele mesmo.

Mídia - Jornal impresso: e quem disse que ele vai morrer?

Por Cézar Katsumi


Talvez ainda seja cedo apostar no fim do jornal impresso, como sugeriu o artigo “Who Killed the Newspaper” do periódico inglês The Economist em 24 de agosto de 2006. Pelo menos por enquanto aqui no Brasil essa profecia não parece estar perto de se tornar realidade. Embora a circulação média dos jornais no mundo venha sofrendo uma sensível queda nos últimos anos, os números do Instituto Verificador de Circulação (IVC) divulgados pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ) revelam que, desde 2004, os principais jornais brasileiros têm apresentado um aumento de circulação ainda que discreto. Em 2004, 2005 e 2006, a circulação média dos jornais cresceu, respectivamente, 0,8%, 4,1% e 6,5%, passando de 6,52 milhões para 7,23 milhões de exemplares vendidos diariamente.

Segundo a ANJ, essa recuperação teve como motivo o bom desempenho da economia brasileira. O Brasil é um exemplo clássico da relação do quadro econômico com a venda dos jornais. Nos anos que antecederam a recuperação da indústria jornalística, o PIB nacional crescia a taxas reduzidas. Somente a partir de 2004, com o reaquecimento da economia, os brasileiros passaram a comprar novamente os jornais impressos. Isso mostra que o mercado ainda existe mesmo com a concorrência da internet como fonte de informação.

Ao contrário dos que pensam que a mídia impressa deixou de ser atrativa para os anunciantes, o investimento publicitário no meio jornal vem subindo ano a ano no Brasil. De 2002 para 2006, o total dos investimentos saltou de R$ 1,91 milhão para R$ 2,69 milhões, registrando um aumento de 40%. Embora o investimento tenha subido em números absolutos, o jornal impresso, desde 2000, vem perdendo sua parcela de participação dos investimentos quando comparado aos outros meios. Um estudo do Projeto Inter-Meios divulgado pela ANJ constata que os investimentos publicitários vêm migrando principalmente para a TV por assinatura e para a internet.

Contudo, o jornal impresso está longe de perder espaço para a internet. Em três anos, esta só conseguiu avançar 0,5% na participação dos investimentos em mídia, ocupando modestos 2% em 2006. Nesse mesmo ano, o jornal impresso detinha 14,7% do total. Um meio impresso que apresentou um aumento significativo em 2006 como destino dos investimentos em mídia foi a revista. Ela sozinha abocanhou 1,7% a mais do total em relação a 2005, encerrando o ano de 2006 com uma participação de 10,5% da receita publicitária das mídias.

Diferentemente do que ocorre no Brasil, o mercado dos jornais impressos nos EUA vem perdendo cada vez mais em circulação e receita. Segundo o artigo “Out of Print”, publicado pela revista The New Yorker no dia 31 de março de 2008, a New York Times Company, uma das maiores empresas de comunicação dos EUA, que publica o jornal The New York Times e o International Herald Tribune, entre outros títulos, sofreu uma queda de 54% na bolsa de valores desde 2004.

Embora o mercado dos jornais impressos seja desanimador na maior parte do mundo, é precipitado afirmar que seu fim esteja próximo. Quando surgiu o rádio, não foram poucos os que acreditaram que o jornal estava com os dias contados. Da mesma forma, com o surgimento da televisão, houve quem dissesse que o jornal e o rádio sairiam de cena. Erraram. Logicamente, os meios tiveram de adaptar-se à nova realidade, assim como o jornal impresso o vem fazendo desde o advento da internet. Já se percebe, por exemplo, uma tendência de textos mais curtos no jornal online e de reportagens mais longas e aprofundadas no jornal impresso.

Seja pela tradição, seja pela credibilidade. O fato é que os principais jornais impressos continuam influenciando o cenário político e social do país e provavelmente o farão ainda por muito tempo. A sua sobrevivência no mercado está condicionada à capacidade de promover mudanças na sociedade. Afinal, eis o seu verdadeiro papel.

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